PARTIDA
“ A Odisseia Emigrante de Uma Família Açoriana”
Foi através da Internet que conheci Adalino Cabral. Aconteceu há cerca de quatro anos. Graças à magia das tecnologias modernas de comunicação tem sido possivel que as comunidades portuguesas espalhadas pelos sete continentes se encontrem mais perto. O Adalino fixou na sua mentalidade de criança de tenra idade um drama que só ele o não viveu, mas muitos milhares de outras crianças e, adultos, a tragédia da emigração portuguesa que por força das circunstâncias: outros Adalinos tiveram que deixar as suas raíses e, partir, em busca de outras terras; conhecer outras gentes levando com eles as raízes dentro de suas almas.
Nas andanças da vida Adalino Cabral como soldado americano, partiu para o Vietname e esteve engajado na luta contra a integração do comunismo no sudeste asiático. Adalino Cabral e Eduardo Mayone Dias escreveram um livro “Portugueses na Guerra do Vietname” onde é relatada a tragédia, em que todas as guerras se convertem e, dentro da valiosa obra estão inseridas: “Entrevistas com emigrantes portugueses dos Estados Unidos que participaram na Guerra do Vietname”.
Na nota prévia de Adalino Cabral do referido documento, histórico, numa passagem escreve: <<... uma guerra onde também portugueses estiveram presentes. E, mais uma nota a acrescentar à imensidade da tragédia dessa contenda, cerca de cem militares com sobrenomes portugueses po lá tombaram para sempre.>>
Estamos perante um Adalino Cabral que conserva a religiosidade caracteristica das gentes açorianas, marcado pelas agruras da vida de sua infância (aquelas a que todos os portugueses estavam sujeitos naquela época) que à visão dos seus olhos nada lhe escapa, desde a partida da Feteira Gande até aos braços de sua mãe que ansiosamente esperava pelos filhos e marido em New Bedford nos Estados Unidos da América.
Nos Estados Unidos Adalino Cabral fez-se por sua conta e risco um Homem e estamos perante um autodidacta e, bem, o descreve a sua biografia:
“ Nasceu na Feteira Grande, Nordeste, Ilha de São Miguel em 1945. Emigrou em 1954 para os Estados Unidos com o pai, dois irmãos e duas irmãs para se juntarem a sua mãe que já ali se encontrava. Depois de seu curso secundário teve diversos empregos ofereceu-se como voluntário para a Força Aérea dos Estados Unidos. Em 1968 é destacado para prestar serviço na Guerra do Vietname. Esteve baseado na famosa base aérea de Cam Ranh, com o quartel general em Saigão. Entrou em combates, por numerosas vezes, em várias partes do Vietname contra os “vietcongues”. Regressou aos Estados Unidos e, depois de ter servido, na reserva, o Exército, frequentou cursos em Lisboa e Coimbra; completou sete mestrados em várias faculdades e obteve um doutoramento (Ph.D) em Ciências Pedagógicas pelo Boston College. De momento é professor de português, espanhol e inglês nos arredores de Boston”.
Mas mais além da sua forma generosa de seu viver não posso deixar de descrever uma carta na última página do seu livro “ Portugueses na Guerra do Vietname” porque finalmente o Adalino apesar da opção de ter optado pela cidadania americana dentro dele existe a alma lusa.
Eis o conteúdo da carta escrita e eviada, por e-mail, a um José que até este posso ser eu:
“ Quando eu estava no Vietname, cheguei a ajudar alguns pobres num orfanato católico. Nem sequer havia altar na pequenina capela. Não havia imagens de santos. Nada. Apenas uma pequena cruz, simplesmente dois pauzinhos cruzados. O Padre Paul Hanh (nunca me esqueço disso!) ao saber que eu era português, disse-me logo que Camões tinha naufragado junto à foz do rio Mekong no Vietname, e que ele (o padre) gostava muito de Nossa Senhora de Fátima.. Já a tinha visto em livros, mas nunca uma estátua. Que fiz? Escrevi aos meus pais pedindo que eles, se possível, mandá-la para mim. Nunca pensei que o desejo se tornasse realidade, pá. Não sei quantas semanas depois, bumba! Uma caixa de madeira um pouco pesada, endereçada ao Sargento Adalino Cabral... Nunca mais tinha pensado na estátua. Milagre dos milagres, José! Ao abrir a caixa, encontrei uma lindíssima imagem de N.S. de Fátima e umas flores de plástico para se colocar junto dela. Era Natal de 1968. (Estou a contar-te isto, José, mas as lágrimas não me param de correr a sério.) O meu comandante autorizou que eu e alguns outros soldados bem armados – metralhadora e tudo – fossemos caminho fora, cerca de 30 milhas norte, zona de mais actividade/combate. Quando lá chegamos, claro as crianças – coitadinhas – e as freiras, bem como o padre Hanh, cumprimentaram-nos. “ Cá vem o Sargento Cabral!” Já vinha emocionado com a surpresa para eles. Abre-se a caixa, e começam todos – freiras e padre – a chorar e a dar graças a Deus. Pá, não calculas em mil anos todo o calor que me passou por toda a fibra deste corpo, em terra de tanto barulho e tanta morte. Uma das maiores riquezas que trouxe do Vietname foi precisamente essa memória, bem como uma foto tirada comigo a oferecer a imagem aos vietnamitas – oferta do coração da família Cabral, de New Bedford, Massachusetts.
Deixa-me ir. Penso que com a idade fico cada vez mais emocionado com as experiências de outrora.
Um grande abraço amigo e um muito obrigado por tudo, José.
SEMPRE P’RÁ FRENTE!
Adalino “
José Martins
Há um velho ditado francês que toca no amágo da alma que parte – da alma do emigrante: “dire adieu c’est mourir un peu,” ou seja: “partir e morrer um pouco. “Porém, para emigrar e para se morrer é um pouco - muitíssimo além da imaginação. E agora a história será contada... A história verdadeira da experiência da partida, viagem e chegada de uma família açoriana cujas vidas mudararm para sempre após terem deixado os Açores, para além do mar, no dia 15 de Janeiro de 1954-há cinquenta anos...
Eramos mesmo paupérrimos - casa com chão de terra batida, sem água corrente, sem quarto de banho, electricidade, gás... nem sapatos. Nunca tivemos calçado nos Açores. Eramos possuidores de um par de tamancos, grandes, usados por toda a família quando precisavamos de ir à retrete, lá fora, durante as noites mais frias. Contudo, sempre havia um “penico” debaixo da cama para necessidades mais leves.
Às duas ou três da madrugada sempre acordavamos as galinhas e os porcos que se encontravam dentro de uma vedação de pedras chãs e altas, à volta da parede da retrete. De aí as fezes caiam através de um buraco que dava para uma outra abertura no chiqueiro...A sanita não era nada como aquelas da América. Encontrava-se dentro de uma casinha, pequena, feita de pedra como um nicho, tipo “altar”, mas sem lugar para nos sentarmos. Era preciso subir ao “altar e então acocorar-se para obrar através de um buraco pequeno e quadrado. Papel higiénico? Não havia! O papel era escasso e caro. Mas havia milho – e não faltava folhelho...
Rezava-se. Era essa a esperança ouvir o bom Padre Francisco Silva com os seus sermões na igreja de Santa Ana ali perto, na Feteira Pequena... Foi ele quem casou Manuel e Olávia e baptizou Olivério Manuel, Maria Olívia, Adalino, Dortina e Jeremias, na rua do Rocha (antiga rua do Lombo) número 20, Feteira Grande.
Embora a emigração tenha acontecido há cinquenta anos, tudo se recorda como se fosse aqui e agora. Era o dia 10 de Janeiro de 1954. De manhãzinha, tão cedo, ainda escuro lá fora, as cinco crianças foram acordadas após uma típica noite mal dormida em camas mornas com colchão de folhelho – uma para as duas raparigas, uma para os três rapazes e uma para os pais.
A nossa mãe, Olívia, encontrava-se nos Estados Unidos havia dois anos – inicialmente residindo com familiares na rua Morgan, número 7, em Faurhaven, Massachusetts. Da Morgan ela caminhava para e de New Bedford, atravessando a velha ponte verde de Fairhaven, na rua Goggeshall, para ambos os eus empregos – fábricas de roupas - dia e noite, chuva ou sol, neve ou gelo, calor ou frio – para trás e para diante...
Convencida de que ia melhorar a vida, decidiu com Manuel que ela – como a única qualificada legalmente para o fazer – emigraria para a América. Dinheiro? Não havia, e todo quanto era preciso para a viagem de Olívia teve que ser pedido emprestado. Foi uma experiência muito difícil deixar atrás marido e cinco filhos jovens. Contudo, sentia-se esperançada de que a família em breve se poderia reunir a ela nos Estados Unidos.
Olívia tinha nascido na América, a 4 de Dezembro de de 1920, na rua Blackburn – no sul de New Bedford, rua lateral a County, pero da Rua Rivet. Era pois americana por nascimento.
Após terem casado em S. Miguel, os pais de Olívia, Clemente Fancisco Resende e Maria Canastra Nogueira, tentaram melhorar suas vidas. Porém, a situação económica nos Estados Unidos não estava nada bem. A depressão rondava a porta, a piorar, e então eles decidiram regressar ao seu pequeno bocado de terra na Feteira Grande, onde, pelo menos, podiam culivá-la para sustentar uma família que chegou a 14.
O nosso pai, Manuel – nascido em São Miguel a 15 de Agosto de 1919; falecido a 22 de Dezembro de 2001, em Fairhyaven, e sepultado no cemitério de São João em New Bedford – só teve umas seis semanas de escolaridade, mas resultou ser óptimo professor na, e de, vida para todos nós. Após a nossa mãe ter emigrado para a América a 5 de Janeiro de 1952, a vida tornou-se bastante difícil para ele, já que não era nada fácil ter que trabalhar nas terras e cuidar de cinco crianças – o mais velho, Olivério, com dez anos e Jeremias, o bébé, com dois. Agora era altura de todos se prepararem para se juntarem a Olívia.
Não havia sapatos? Para irmos para a América precisavamos de sapatos. Mas já que a nossa mãe estava em New Bedford não haveria problema. Ela escreveu ao nosso pai, e a tia Lucília leu e respondeu o que era preciso. Tratava-se simplemente de uma questão de medir os pés de cada garoto com fios, cortá-los ao tamanho apropriado, atar os pares juntinhos e enviá-los num envelope para a América. E assim foi. Uma semanas depois, todos tinham sapatos pela primeira vez! Nunca tinhamos calçado sapatos. Fantástico! Agora nós íamos para a América...
Ben cedo de madrugada, por volta das três em se podia falar alto... Todos a sussurrar. Não queriamos acordar a vizinhança. Queriamos partir sem cerimónias. Havia um certo nervosismo curioso no ar – na atitude de todos. A avó Nogueira e a tia Lucília, que moravam logo ali ao lado, estavam em nossa casa – ajudando-nos nos preparativos da partida. Confusos com aquilo tudo, precisando de nos lavarmos bem lavadinhos, vestindo a roupa de domingo (e não era domingo!)... era tudo demais. As crianças queriam saber o que estava a acontecer e perguntaram ao pai. A resposta – em tão sussurradinha foi: “vamos para a América!” Em breve, foram abraços e beijos e lágrimas... Ninguém sabia que íamos partir nessa altura mas a tia Dulevina – do outro lado da rua – viu luz acesa, suspeitou algo e foi lá ter pouco antes de partirmos. Ela também nos abraçou e beijou e chorou, como a avó Nogueira e a tia Lucília...
Saímos da Feteira Grande por volta das quatro e meia da manhã e fomos a pé para a Feteira Pequena. Daí, a camioneta levou-nos até Lomba da Maia, onde – á espera da camioneta da tarde para Ponta Delgada – ficamos em casa de amigos – Mariano e Maria José Leite. Partimos então para a “cidade”, ou seja Ponta delgada – lugar nunca antes visitado pelas crianças. Ao cabo de muito tempo, a camioneta finalmente entrou numa garagem grande. Ainda podemos recordar o cheiro daquelo fedorento oleo diesel que vinha do tudo de escape do veículo durante a viagem. Dentro da garagem, era ainda muito pior...
Devido a demoras, tivemos que ficar alojados em Ponta Delgada por uns dias. Estivemos com uma família conhecida da Avo Nogeira - na casa dos senhores Luis e Elvira Carvalho, na rua da Mãe de Deus, ali perto do Jardim da Cidade. O jardim tinha algo que nunca tinha visto - um grande lago de pedra e cimento contendo peixes dourados. Essa foi a primeirissíma vez que vimos lâmpadas eléctricas e peixes dourados num lago. Na Feteira tinhamos apenas candeeiros de petróleo. E, regra geral, comiamos chicharros ou sardinhas. Nunca eram da cor de ouro.
Era de dia quando a 13 de Janeiro de 1954 em “Rabo de Peixe” abordamos a avioneta de oito passageiros da SATA para atravessarmos o mar com destino a Santa Maria. Foi meia hora de aventura naquela viagem aérea da Ilha Verde até à ilha de Gonçalo Velho Cabral! A nossa Maria encontrava-se petrificada de medo. Não parava de berrar. A Dortina, por outro lado, tornou-se palidíssima mas não levou muito tempo para que se juntasse às melodias do coro de Maria. O bébé - Jeremias – agarrava-se com toda a força aos pescoço do pai e tremia a sério. Nunca chorou” Olivério e Idalino – embora pálidos e cheios de medo – deliciavam-se com a aventura sem comparação, especialmente, quando a avioneta virava ora para a direita ora para a esquerda e se via pelas janelas aquele grande mar lá em baixo. O pai – sempre sério – cara de preocupado. Naturalmente, todos nós temiamos o desconhecido...
Finalmente chegamos, e tivemos que esperar ainda mais tempo perto do aeroporto de Santa Maria – construido pelos americanos poucos anos antes. Dormimos numa pensão. E então, bem de noite – cerca da uma – no dia 15, um grande carro preto levou-nos ao terminal do aeroporto. Não era muito longe. Em breve estariamos a bordo daquele grande avião Constellation da TWA – um monstro de quatro hélices. Tremiamos de tanto medo e tanbém da frialdade daquele embarque às duas da manhã de um inverno açoriano, em pleno Janeiro.
Nunca na nossa vida tinhamos entrado num avião daqueles nem tão-pouco visto um em terra ou no ar, grande ou pequeno, e não sabiamos fazer comparações. A pequena SATA fora a nossa primeira experiência. Ora, ao nos aproximarmos ao TWA, ficamos verdadeiramente afligidíssimos. Que coisa colossal, Santo Deus do Céu!!! Eramos tão pequeninos. Tremiamos ainda mais e os dentes batiam ao ritmo de castanholas-ai-jesus-querido!!!
Hospedeiras com nunca vistas de lábios-pintados a vermelho e falando de um modo esquisito puseram-nos nos nossos lugares. A princípio, uma delas sentou as crianças em lugares separados do pai. Claro, ele zangou-se logo e queria, por força, que ficassem todas à sua roda. Embora não sabendo uma única palavrinha inglesa que fosse, ele fez lá os seus gestos e a hospedeira fez os seus – para trás e para diante – mas por fim o pai venceu! Todos juntinhos. Ele tinha jurado à nossa mãe que tomaria boa conta de nós. A hospedeira deu ás crianças tubos longos contendo no interior cores tão bonitas que formavam desenhos quando se viravam. Eram caleidoscópios. Que coisa tão linda! Nunca haviamos visto coisa semelhante em toda a nossa vida! Coisas curiosas...
Sede? Onde estava a água? Vimos – fomos lá ver – um grande garrafão virado de cima para baixo. E, ao lado, vimos dois homens a levar à boca copinhos branquinhos. Ficamos entusiasmados com as bolhilhas dentro do garrafão à medida que se mexia na torneira. Os homens viram que tinhamos sede e deram-nos copinhos de água fresquinha – tão fresquinha como nunca dantes. Depois, até fomos lá ter mais vezes para beber água, mas especialmente para nos entretermos, vendo o que nunca tinhamos visto – as bolhas a saltitar quando se tirava água da torneira! Fascinante... Quanto a comida? Cheirava mal, e o gosto pior...
A casa de banho? Ninguém sabia onde estava. Toda a nossa vida – na Feteira Grande – andavamos na pobreza com casinha de pedra e porcos sempre cheios de fome. Não havia nada – absolutamente nada – que se parecesse com a nossa casinha – a nossa retrete. O que fazer então? O nosso pai estava demasiadamente apertado. Os filhos também precisavam... Ele pensou que, vergonha ou não, seria ali mesmo que molharia as calças, uma vez que não havia retretes. Mas, que diabo, os americanos não têm retretes??? Subitamente, ele viu um homem a sair de uma portinha. Por curiosidade- procurando o possivel e o impossivel – enfiou a cabeça, notou que havia um buraco, mas coisa moderna – e chique. P’ró bem ou p’ró mal – foi ali mesmo onde o alívio total se tornou história, para sempre – obrigado, Senhor...
Aterramos na Terra Nova, Canadá umas cinco horas depois mais ou menos, para reabastecimento de combustível. Não se saiu do avião mas viu-se, pelas janelas, as coisas mais estranhas – homens vestidos com casacos grandes e grossos, com capuzes de pele na cabeça. Ainda mais estranho era toda aquela brancura. Que experiência fantástica! Pela primeira vez vimos “sino” ou neve, o que parecia tanto açucar como farinha branca para pão... que fartura...
Cerca de meia hora depois, de novo no ar, direcção a Boston. As hospedeiras periódicamente perguntavam-sos se queriamos leite, mas em espanhol ( que desconheciamos por completo): “quieres leche?” Entediamos “quieres”, mas “leche” não. E então abanavamos, sempre, a cabeça indicando “não”. Pareciam tão estranhas as palavras que saima da boca da hospedeira – tentando falar a nossa língua, e dizendo nada mais, nada menos do que” quieres leche”. Ora essa! Afinal eramos portugueses e não espanhois. Mas, na realidade, se tivessemos sabido que “leche” era “leite”, teriamos aproveitado todas as vezes. Teriamos adorado. Era rarissímo bebermos leite na Feteira Grande...
Finalmente aterramos no aeroporto de Boston. Amigos da nossa mãe esperavam-nos. Tinham um grande carro verde-escuro – um Hudson. Apreciamos a beleza da neve a cair, os telhados das casas e os tejadilhos dos carros cobertos de branco. O carro movia-se vagarosamente, às vezes resvalando para um lado e para outro. Havia sete pessoas a bordo- todos em direcção a New Bedford para se encontrarem com a nossa mãe que tinha esperado por nós por dois longos anos, iamos para a nossa nova e primeira casa na América – bem perto do céu, no terceiro andar da 49 Philips Avenue. Felizmente, a nossa mãe tinha dado roupa a tia Baptista para a gente quando chegassemos. De vez enquando Anthony Ferreira, o motorista – e cunhado da tia Rosa Baptista – parava o carro e dáva-nos um golito de aguardente para nos aquecermos. Não fazia muito calor no carro, e fazia muito frio lá fora. Os nossos pés estavam sempre gelados...
A nossa mãe aguardava-nos. Não podiamos esperar até chegar a nossa nova casa... Levou tanto tempo para chegar – uma eternidade parecia. As ruas estavam ruins. O carro apenas se arrastava...
Já cá estamos... Da Belville Avenue, Phillips Avenue abaixo, número 49. Todos saímos do carro e subimos ao terceiro andar para abraçar e beijar a nossa mãe – senhora muito linda de 34 anos de idade, lacrimosa mas feliz, braços abertos à espera por dois anos muito difíceis, sózinha na América e aprontando-se para receber a sua querida família da Feteira Grande, São Miguel, Açores, Portugal.
Muito e muito obrigado, queridissimo Mãe e Pai. Obrigado, meu Deus! Obrigado, América! SEMPRE P’RÁ FRENTE!
Bedford, Massachusetts