AS MINHAS FÉRIAS

( No país das maravilhas)

                                    

Férias é o que todos aspiram depois de um ano de trabalho.

Antes que a data das minhas me cheguem, um mês antes,  vivo com entusiasmo a euforia do tão apreciado dia.

Há uns anos dedico duas semanas para uma viagem, sem destino, pelas estradas da Tailândia. Não tem sido a orla maritima do Golfo da Tailândia ou a costa do Mar de Andaman  a opção de minha escolha.

Já, suficientemente, de pele morena pelos anos vividos nos climas trópicos e, por isso ignoro a maresia e o sol das praias; a passagem de modelos na passarelle pelas “vamps” a exibirem os “bikinis”, discretos ou os reduzidos e chamados de “fio dental” e,  deixo assim as areias das vaidades, balneárias e sigo para os campos e montanha da “Terra dos Sorrisos”.

Viver na Tailândia é um privilégio!

Eu fui um dos que a sorte bafejou sem nunca me ter passado pelo pensamento que parte da minha vida seria passada numa terra, onde a paz do meu viver, durante cerca de duas dezenas de anos tenha sido perturbada.

 Eu como todo o povo tailandês  vivemos debaixo da benção do lorde Buda e seguidores da linha de orientação do Rei Bhumibhol Adulyadej cujo reinado segue nos 57 anos e, actualmente o que ostenta o mais longo reinado de todos os monarcas, contemporâneos, do globo. 

Chovia, no fim do passado dia de 30 de Maio, quando deixei Banguecoque com destino a Ayuthaya para ali pernoitar e, no dia seguinte traçar os meus planos de viagem dentro da diversidade das direcções do perímetro de uns 300 quilómetros.A Tailândia, devido ao desenvolvimento da pneunomia “Atípica”, no mundo, encontra-se despida de turistas. Os hoteis, de todo o país estão com pouco mais de 10% de ocupação.

Entretanto, apenas, foram registados oito casos e com a Itália e a Alemanha à frente nas estatísticas da Organização Mundial de Saúde.

Foi vítima já do habitual sensacionalismo, mediático, da comunicação social portuguesa que notíciou, há umas duas semanas que um turista português chegado ao aeroporto de Lisboa vindo da Tailândia, adoentado, foi desde logo tomado com portador do vírus o que na realidade não foi assim.

O mesmo alarme aconteceu no final do ano passado ao desaconselhamento aos turistas oriundos da Comunidade Europeia pelas autoridades dos países que  a compôem e transmitido aos canais de televisão, da rádio e à escrita a não visitarem a Tailândia dado existir a suspeita de ataque terrorista semelhante ao havido no Bali. Em todo o território da Tailândia, incluindo estâncias as balneárias, as zonas de divertimentos nocturnos a paz foi absoluta que em nada a fez perturbar.

Os hoteis de Ayuthaya estão de quarentena forçada não para a desinfecção mas desinfectados de turistas motivada pela pneunomia “atípica-nisca” que desviou muitos milhares de turistas de visitarem certos países da Ásia e, a Tailândia foi um dos paises inserido.

A minha primeira noite foi dormida no habitual “Ayuthaya Grande Hotel” pelo preço da diária de 15 euros, com direito ao pequeno almoço.

Ao outro dia às 6 da manhã saltei fora da cama e, antes do “mata-bicho” fui dar uma volta à circunvalação da parte histórica, onde vivem as ruínas de uma capital que foi de templos e palácios revestidos a ouro.

A cidade, nova, principiava a bulir com as paragens de auto-carros,carrinhas e riquexós com operários dos dois sexos esperando o transporte que os levem a uma das oitocentes unidades fabris instaladas na província, há uma dúzia de anos, em parte com investimentos estrangeiros.

Monges vestidos de robes de cor de açafrão caminham, descalços, com o pote dourado seguros com as duas mãos em procura de esmolas de comida, doces, dinheiro e flores do lótus para depois decorar o altar de Sua Santidade Lorde Buda no templo. Crianças de escola, de mochila às costas sós ou acompanhadas pela mamãs dirigiam-se para a escola do templo.

Uma a mãe segurava, pelo braço, um miúdo de uns quatro anitos que berrava  “mai pai mai pai”! (não quero ir-não quero ir). O motivo da gritaria do aterrorizado “puto” era pelo facto de ser o seu primeiro dia de aulas.

No passeio ou um pouco mais atrás fogareiros em cima de carros ambulantes assavam frangos no churrasco, inteiros e espetadas de moelas cujo o fumo esbranquiçado invadia o espaço e penetrou-me nas narinas. Não resisti à tentação do petisco e por dez bates (dez cêntimos de um dólar), da janela do carro comprei duas e, que bem cairam no meu estômago vazio!                       

Saí da estrada da circunvalação, junto ao monumento erigido em honra  da heroína Rainha Suryiothai e atravessei a ponte que liga à estrada de Aiutaá para Supanburi e cortei a uns cem metros ao meu lado esquerdo e rodei para a Aldeia dos Portugueses (Bangportuguete). Um pouco mais adiante do desvio encontro as imponentes e esplendorosas ruinas do Templo Chai Watthanaram. Conhecias, pela primeira vez, há 23 anos praticamente votadas ao abandono. O desenvolvimento do turismo e dos transportes aéreos trouxe aos olhos do mundo este maravilha de arte assim como outros templos da velha Aiutaá que o departamento das Belas Artes da Tailândia não descurou a restauração dando-lhe a  fidelidade da origem da construção.

Um pouco mais à frente está um templo budista onde os monges varriam o terreiro e as escadas que entrada do edificio onde o Lorde Buda está exposto no altar. Continuando a minha viagem ao meu lado direito e depois de atravessar a pequena ponte por cima do canal está a uma mesquita muçulmana com uma cúpula a sobressair-se   do telhado. Dos oito alto-falantes nos cantos da mesquita, altas vozes estridentes com passagens das orações do profeta anunciavam a a primeira oração do dia. Cá fóra havia já seguidores de Maomé junto a um tanque rectangular descalçavam as sandálias dos pés para em seguida os lavem. Outros, com as mãos, os chapinhavam enquanto que alguns levavam um punhado de água o rosto para que lhe sejam retiradas as impuresas do corpo que as das almas ficarão por conta do profeta.

 

 

 

Prosseguindo e um pouco mais à frente avisto a igreja de São José, na localidade “Mahapram”, conhecida pela dos franceses, de estilo arqitectónico gótico com a torre, em flecha, dirigida para o azul do céu. Foi ali que a partir de 1662 que Monsenhor de la Mote Lambert, missionário da “Missões Estrangeiras”,  se instalou e, cuja presença viria a dar muitos problemas e perturbar a paz aos pobres dos nossos missionários das congregações: Franciscanos, Dominicanos e Jesuitas, agregadas ao “Padroado Português do Oriente” que já missionavam e convertiam almas ao cristianismo, siamesas, no Bangueportuguete, havia mais de um século. Sobre a guerra fria ali travada entre religiosos 

António da Silva Rego na sua obra “O Padroado Português do Oriente esboço histórico” (edição da Agência Geral das Colónias/1940) escreve:

 

<< ....a quem pertencia vigiar pela pureza da Fé e dos bons costumes, era representada no Sião por Frei Luiz Fragoso, dominicano. Viu êste com maus olhos a censura de Mons. de la Motte Lambert, considerando-o como atentória contra a sua autoridade. E assim cominou a excomunhão contra o vigário apostólico, acusando-o, por sua parte, de várias opiniões teológicas falsas. A excomunhão contra o vigário apostólico foi afixada na porta duma das igrejas de Juthia (Aiutaá). Mons. de la Motte Lambert queixou-se, muito naturalmente, ao Santo Ofício, que a 3 de Setembro de 1671 declarou nula a excomunhão e mandou reparar o escândalo causado por Fr. Luiz Fragoso>>

 

Fr. Manuel Fragoso foi deposto pelo Papa Clemente X e obrigado a sair do Sião e, com isto a jurisdição religiosa do Padroado Portugês do Oriente no Sião foi perdida e, tomada pelas Missões Estrangeiras de Paris, largamente subsidiadas, monetáriamente, pelo Rei Luis XIV de França (com a objectividade, futura, de colonizar o Sião) e apoiadas pelo Vaticano.

Clemente X não ficou lá muito satisfeito com as exigências dos missionários do Padroado tivessemn obrigado Mons. de la Motte Lambert amostrar as bulas como se ele estivesse sujeito a Goa e não directamente à Santa Sé;

Excomungados e multados em 200 moedas os cristãos que com ele tratassem.

E, mais, os missinários portugueses não poderiam excomungar nenhum cristão em território estrangeiro. (Os missionário portugueses do Padroado nunca estiveram debaixo da jurisdição do Vaticano mas sim a Lisboa).

A cerca de uma légua da igreja do franceses e junto à margem do rio Chao Praiá, está a Aldeia dos Portugueses (como tendo sido conhecida na proximidade de cinco séculos).

O aldeamente, na sua orígem, foi bastante extenso com mais de mil metros de comprimento onde foram fundadas três paróquias e espiritualmente administradas pelos Dominicanos, Franciscanos e Jesuitas.

No local estão envolvidas em denso matagal à espera que as as ruinas sejam postas a descoberto as igrejas de São Francisco e a dos Jesuitas. A partir de 1982 e graças ao empenho  do então Embaixador José Eduardo de Mello Gouveia e entusiasmo do Dr. José Blanco, administrador da Fundação Gulbenkian que apoiado pelo interesse na concretização do projecto pelo falecido Presidente  Dr. José Azeredo Perdigão a Gulbenkian viria a subsidiar as escavações das ruínas e a construção de um belo edifício na paróquia de de São Domingos. Portugal está, alí, condignamente, representado para os próximos séculos e a reviver a memória às gerações vindouras, a passagem e a presença da lusitanidade na velha capital do antigo reino do Sião.

Será de frisar, aqui, que dez antes o Dr. José Blanco, quando, como  Director do Serviço Internacional da Fundação Gulbenkian, em 10 de Maio de 1972, (um jovem e dinâmico com 37 anos), numa carta enviada ao Embaixador Manuel de Sá Nogueira, num parágrafo escrevia:

 

<<Calculando, porém, que, decorrido tão largo tempo desde a apresentação do referido pedido, o projecto deva ter evoluido, tomamos a liberdade de rogar a V. Exa. Se digne providenciar no sentido de nos serem  facultadas informações actualizadas sobre aquele projecto, a fim de nos permitir tomar uma decisão.>>

 

Aqui se verifica o desejo e, não menos patriotismo, do Dr. José Blanco na iniciação do projecto das escavações e construção do edífico que seria inaugurado em 2 de Abril de 1995, com a presença da Princesa Galyani, irmã, do Rei, o Ministro da Educação tailandês, do

Embaixador Castello-Branco e do Núncio Apostólico, além de outras individualidades ligadas aos meios culturais da Tailândia.

E, pelo interesse , que merece o brilhante e patriótico discurso que o Dr. José Blanco proferiu, dirigido, às individualidades presentes e em particular à Princesa Galyany (na ocasião estive ali na qualidade de correspondente da Agência Lusa com o jornalista João Roque a reportar o evento) apraz-me descrevê-lo, na integra, em língua inglesa:

 

<< It is for me a great privilege to attend this ceremony on behalf of the board of Trustees of the Calouste Gulbekiam Foundation.

The presence of you Ryal Highness is indeed a great honor for us and I have been asked by my colleagues to present your Royal Highness the Foudation’s most respecteful greetings and thanks.

Under the auspices of you Royal Highness, we are today reviving the historical words of His Majesty King Rama II, recorded at the moment of the establishment of the Portuguese Factory in Bangkok im 1820 on that occasion, the King stated that he “favoured the Portuguese Nation more than all others”.

We are also honoured by the presence of  so many  distinguished Thai authorities, together with His Excellency the Ambassador of Portugal in Bangkok, thus showing the interest and the importance of a project which is an example of the fruitful cooperation between Thailand and Portugal.

This friendly cooperation between our two countries started almost five hundred years ago, when His Majesty the King Rama Tibodi II gave a warm welcome in 1511 to a Portuguese Envoy, who had been sent from Malaca by Afonso de Albuquerque, on behalf of the King of Portugal.

The Portuguese are still today extremely proud not only for having been the first Europeans to reach this great country but also for having been the first Western nation to celebrate, in 1518, a Treatry of Friendship and Commerce with the Kingdom of Siam.

This moment is deeply moving for all of us, Portugueses. We are indeen celebrating the recovery of commom historical heritage, precisely where our ancestors lived and died more than four hundred years ago.

The Calouste Gulbenkian Foundation is a Portuguese private philanthropic organization which supporte projects the fields of charity, the arts, education and science, not only in Portugal but also abroard. As regard its international activities the Foudation pays special attention to projects relating to the restoration of Portuguese historical monuments in foreign countries. At the request on respective aauthorities and with they collaboration, we have implemented projects of this type in Kenia, in the Republic od Benin, in Morocco, in India, in Brasil, and Uruguay.

The interest of the Calouste Gulbenkian Foundation in the project of the Portuguese Settlement in Ayuthaya began twelve years ago in 1983. It is only fair to recall here the important role played in this context by H. E. Dr. José de Mello Gouveia, who was at the time Ambassador of Portugal in Bangkok.

The Foundation started to contribute towards the project in 1983, when a first grant was approved for the archaeological excavation of the ruins of St. Dominicºs Church. A second grant for the same purpose was made in 1986 and, finally, in 1994, a third contribuition was given for the construction of the building which protects the burial site.

We consider that the Portuguese Settllement in Ayuthaya is one of the most relevant of our internacional projects, not only because it was implement in a remarkable way by the Fine  Arts Department. From now on, a significant part of the oldest foreign Settlement in this historical city will be preserve for the future.

I wish to thank all Thai experts and workers who made their best efforts for the successful implementation of this project, which the Calouste Gulbenkian Foudation is proud to have been associated with.

Your Royal Highness, Your Excellencies, Ladies and Gentlemen.

A famous Portuguese poet, Fernando Pessoa, wrote once in one of this poems about the Great Portuguese Discoveries the following lines which I will quote first in Portuguese:

                              Valeu a pena? Tudo valoe a pena

                               Se a alma não é pequena

 

Which means in English

                                Was it woth while? All is worth while

                                 If the soul is not small

 

Celebrating  together the memory of all those who are buried here, it seems to me that we are proving that the old spiritual links between Thailand and Portugal are “not small” indeed.

                                            Thank you

 

E continuando a minha viagem em Aiutaá saí do Bangueportuguet e dirigi-me para o Norte e no começo da “Aldeia dos Portugueses” desci até junto à  margem do Chao Praiá admirei a beleza do fortim Pom Phet na embocadura do rio Pasak, vindo das terras do antigo império Khmer, nordeste da Tailândia que ali se junta ao Chao Praiá em direcção ao Golfo da Tailândia a cem quilómetros de navegabilidade. O Fortim, graças à restauração pelo “Fine Arts Department” da Tailândia, há meia dúzia de anos, mantém a fidelidade e o desenho do missionário jesuita do Padroado Frei Tomaz de Valguarnera que segundo Monsenhor Manuel Teixeira na obra “Portugal na Tailândia” foi nomeado engenheiro do Rei Narai e teria aconselhado o monarca que a melhor forma de defender Aiutaá, das investidas do Reino de Pegú (Birmânia) seria a construção de um muro à volta da cidade e, nos pontos estratégicos pequenos fortes com as ameias portuguesas. Valguarnera em 1675 andava muito ocupado com a reedificação das muralhas à volta da cidade, do palácio real e de pequenso fortins, onde se incluiu o de Phom Phet no porto internacional do mesmo nome e, na margem do Rio Lopburi, pontos de máxima estratégia e por onde os birmaneses poderia entrar e atacar a cidade.

Tomaz de Valguarnera e, porque sabe serem mais funcionais e com melhor ângulo de visibilidade e de tiro do que as  ameias do estilo siamês ordena construir as tradicionais ameias portuguesas similares às dos fortes e castelos de Portugal, outros nas costas do Atlântico/ Índico e em outros pontos da Ásia.

Passam, assim, o forte de Pom Phet e os muros de protecção da cidade de paliçadas, rudimentares, a  elegantes obra de arte cujo nelas permaneceram  e engajados na defesa de

Aiutaá e das vias fluviais, controlando e a fiscalizando as navegações, os experientes artilheiros portugueses, vindas de Banguecoque, do Norte e Nordeste do Reino.

Hoje ainda se podem admirar pequenas e esporádicas extensões de muros à volta da cidade, conservados, e ainda a “Sala Vihara” que protegia, com artilharia o templo Phra Si Samphet, ao lado do palácio real e onde se instalava o Patriarcado Budista para que de forma alguma fosse profanado.

 Ali, num altar, estava o Buda Phra Si Samphet coberto de ouro fino com o peso de 346.5 quilos e era a imagem, sagrada e a principal de Aiutaá. Em 1767 e durante a invasão das tropas birmanesas a estátua foi derrubada e despida do ouro que a cobria; roubado pela soldadesca e levado para o Pegú.

Regresso à velha cidade real e quedei-me junto ao monumento onde as cinzas da Rainha Suriyothai foram depositadas. A heroina que monta um elefante depois de ver cair ferido de morte o seu real marido o Rei Mahachakrabhat (1548-69) numa das várias batalhas com o Pegú e para lhe salvar a honra monta um elefante e a infeliz Rainha teve a mesma sorte. A história há dois anos foi passada ao celuloide e realizado um filme com três horas de duração, pelo Príncipe Chatri Chalerm. Embora o facto, histórico, passasse de geração em geração siamesas foram os impressionantes relatos na “Peregrinação”  (que defendo a veracidade dos mesmos) de Fernão Mendes Pinto, na sua passagem no Sião em meados do século XVI, que serviram, em parte, de guião a Chatri Chalerm para realizar a grande metragem.

Aiutaá a capital do Reino do Sião; foi fundada em 1351 e substitui a primeira do chamado Reino de Sukhotai e fundada  Rei Ramathibodi de 1351-1369. A velha capital está replecta de história lusa onde até à queda, em 1767, viveram e morreram várias gerações de portugueses e luso/tailandeses. Gente que viveu por 256 anos ali quer servindo os Reis do Sião, como soldados, mercadores ou ocupando-se e ensinando artes e ofícios. A presença portuguesa, como gente de bem no Sião, foi uma sociedade que se homogeneiza à siamesa e, até aos dias de hoje a passagem da gente lusitâna em Aiutaá e depois de 1767, em Banguecoque, ainda vive na memória dos tailandeses.

E, enquanto, outra gente do Ocidente que por ali passou procuravam servir os interesses do seu país e conspirar contra a independência de Sião; por algumas vezes tiveram de “zarpar” do território quando foram descobertas as suas intenções conspiratórias.

 

 

                                                         LOPBURI

Junto ao meio dia tomei o rumo de Lopburi. Rodando na estrada foi observando os arrozais, verdes, para além das duas margens da estrada. Pequenas lagoas de criação de patos, tranquilamente, flutuavam na água. Outras mais pequenas, na superfície, vegetavam plantas da flor lótus de cores branca e vermelha de exuberante vigor e beleza ao espaço aquático. Uma mulher em cima de uma canoa colhia as flores sagradas, na Tailândia, para ornamentar os templos budistas das redondezas. Mais adiante, entre as árvores tamarindeiras e coqueiros vislumbro a imagem de um Buda, gigantesco, cujos raios do sol já virado para o poente dava brilho, estonteante, à cor as folhas de ouro que o revestia. Mudei de direcção no “U turn” da

auto-estrada e fui admirar a grandiosidade daquela imagem de uns 20 de altura e fixar a sua grandeza, em imagens, na máquina fotográfica. No terreiro do templo o silêncio quedava-se abismal. Os monges, certamente, descansavam a sesta e, assim livrarem-se da calmaria que se fazia sentir provocado pelo sol a meio pino.

Fiz várias imagens aquela grandeza religiosa que serenamente olhava os campos e os protegia lá do alto do pedestal. Á sua volta, em pé, várias outras imagens de budas, também, douradas transmitiam ao silencioso lugar a paz plena.

Parti, talvez, abençoado, pelo Lorde Buda que acabava de visitar.

Lopburi acerca de cento e cinquenta quilómetros da capital tailandesa é uma pequena cidade com muita história; local do encontro da religião indú com a budista no século XIII. Fundiram-se e desde então, até sempre ajustadas em perfeita coerência. A cidade é conhecida pela dos “macacos” onde estes como residência têm as ruínas de templos e palácios que o foram no passado. Durante o dia vagueiam pelo centro da cidade, em procura de comida oferecida pelos residentes ou os turistas. Trepam as colunas que suportam as linhas do transporte de corrente eléctrica; às paredes e empoleiram-se nas janelas; devassam os telhados das casas o que obrigou os proprietários a protegerem-se, da “macacada”, vedando com redes e armações de ferro as frontaria das suas moradias.

Os habitantes de Lopburi têm orgulho e prestam vassalagem aos seus macacos e, todos os anos, em Novembro, lhes oferecem, na praça pública, um opíparo banquete, com mesa decorada com toalha, onde não faltam as delicadas iguarias da doçaria culinária siamesa e frutas do que melhor que se produz

O hotel de minha preferência, desde há anos, tem sido o “Lopburi Inn” onde pela diária me é cobrado 600 bates tailandeses (cerca 13 euros), em troca de um excelente serviço. 

No passeio adjacente à larga e comprida avenida; em frente ao hotel, está decorada com macacões, macacos e macaquinhos, a fazer de conta, fundidos em cimento. Várias árvores  do mesmo material  com macacos e cada um no seu respectivo galho. E para dar mais realce ao conjunto, da macacada, foi colocada,  uma mesa com toalha onde os simios, de betão, se regalam com frutas da região. Dentro da sala de jantar está aparato semelhante que ali foi instalado no centro cuja estranha decoração não tira o apetite e até produz sentido de humor e óptima disposição à clientela..

Lopburi também tem a sua história de amor que correu célere por toda a Tailândia e além fronteiras.

Esta em vez de ser de alguma paixoneta “assolapada” de algum moço ou moçoila foi do orangotango Maico residente no jardim Zoológico de Lopburi.

Há uns oitos anos a companheira Mali do Maico faleceu. E, em vez de se tornar um viúvo alegre entrou em estado de depressivo; alimentava-se mal e, a direcção do jardim receou que o Maico fosse desta para melhor.

Dos vários apelos feitos aos zoos de países possuidores de Orangotangos, a Taiwan ofereceu uma esposa, a Suzu, ao Maico.

A comunicação social fez a devida publicidade e anunciou a chegada da “bela Suzu” a Lopburi. Milhares de pessoas de Banguecoque ocorreram a Lopburi (estive lá) e realizado, um cortejo nunca visto, de uns 4 quilómetros, até ao jardim zoológico de Lopburi com a Suzu metida numa gaiola, ornada de flores para ser apresentada ao pobre do viúvo Maico.

Todas as agências internacionais noticiosas estiveram em Lopburi e a notícia correu mundo.

O Maico é que não imaginava a surpreza que o aguardava!

Tinha sido preparada, uma jaula de larga proporção condigna para o casal gozar a lua de mel e viver a futura vida conjugal.

O Maico olhava estupefacto aquela multidão à volta dos seu habitat.

Chega a Zuzu e havia dúvidas se a nubente o aceitava ou repudiava o inconsolável Maico.

A Zuzu é retirada da gaiola, vestida de branco e metida no apartamento/jaula do Maico e, este depois da troca de sons “orangotangos” entre ele e a futura esposa, o desenvergonhado, viuvo triste, teve o descaramento de fazer amor com a Zuzu à frente de tamanha multidão que se quedava em frente à jaula.

A felicidade do Maico voltou, durante uns sete anos, na companhia da Zuzu.

O casal voltou uma atracção, turista, em Lopburi.

O casal teve dois filhos o Toi e a Joi.

O ano passado o Maico ( a idade não perdoa) começou por ficar doente e passado um mês morreu.

Foram efectuadas as cerimónias funebres.

A Zuzu e os miúdos “orangotangozitos” estiverem presentes na cerimónia.

A população de Lopburi prestou as últimas homenagens ao Maico.

Para perpetuar a sua memória, foi enterrado em campa rasa à entrada do zoo e, mais adiante erigida uma estátua em sua honra e memória.

A Zuzu refez-se do desenlace e, viúva como se encontra, vive feliz com os filhos que acarinha como se humana fosse.

Lopburi é uma cidade de média dimensão demográfica com cerca de 80.000 habitantes (no distrito vivem à volta de um milhão), avenidas bem delineadas dos dois sentidos onde o trânsito rodoviária transita com fluidez. Geográficamente situa-se na continuação das terras baixas da província de Ayuthaya para o nordeste. Solos de grande fertilidade e ideais para o cultivo do arroz, vegetais, grandes milharais (o milho foi introduzido há uma dúzia de anos) e frutos tropicais. Clima moderado e com alguma frescura, nas manhãs e depois do pôr do sol dada à existência da linha de cordilheiras, bastante elevadas, a nordeste vindas das terras altas da Tailândia e direccionadas para sul e terminando no Golfo da Tailândia.

Igual como em outras pequenas cidades da Tailândia, a população é jovem, mantém, ainda, as linhas de conduta tradicionais e caracteristicas de raizes da monarquia tailandesa, conservadoras, cuja forma de vida, actual, da juventude ocidental e de alguns países asiáticos a não tem influenciado.

Muita apetência no saber e normalmente as livrarias encontram-se pejadas de gente nova, aos fins de semana e depois das aulas, folheando livros.

Lopburi é também o centro, principal, militar estratégico de defesa da Tailândia, com vários quarteis espalhados por toda a província.

A lembrar o passado histórico, no coração da urbe figuram e a simbolizar o passado as ruínas do santuário “Prang Sam Yod “ no estilo arquitectónico da escola de arte Khmer. É considerada a cidade ilustre da Tailândia com a mais longa história e, até ao presente tem conservado as tradições culturais e seculares.

No século XVII o Rei Narai o Grande, durante noves meses transferia a sua Corte de Aiutaá para Lopburi. O motivo do seu desvio era pelo facto da saúde débil do monarca que evitava a estação das chuvas e a humidade das terras baixas da capital do Reino.

Foi no seu reinado que a monarquia viveu uma fase de intriga política, conturbada, com a chegada dos missionários, Jesuitas, das Missões Estrangeiras; representantes diplomáticos e engenheiros enviados pelo Rei Luis XIV.

Rumores correram que a França pretendia colonizar o Sião e que o Rei Narai   convertido (nunca provado) ao cristianismo pelos Jesuítas o que viria a gerar o descontentamento nos meios budistas e nos siameses que empolados para a rebelião contra o seu Rei e a presença estrangeira pelo General do Exército Petraja  (vencedor de batalhas e distanciado membro da familia da casa real) pretende a custo alimentar as suas ambições do poder destronando o Rei Narai  e com isto terminar a dominação, já evidente dos franceses, na Corte siamesa que não era olhada com bons olhos.

Os enviados do Rei de França e os  Jesuitas para atingirem o propósito e concretizar as ambições expansionistas e colonialistas de Luis XIV na Ásia  servem-se, como intermediário, do grego Constantino Falcão, homem de rara maneabilidade para os negócios que depois de se exprimir no idioma siamês fala fluentemente outras línguas o que lhe permitiu efectuar avultados negócios (a crédito e cumprida a liquidação), directos com a corte siamesa. Grangeou, com isto a confiança do Rei Narai e ao ponto do monarca não hesitar, como homem de sua confiança em convidá-lo a integrar-se na sua corte, dirigir os negócios do Reino e com a sua presença promover o desenvolvimento e activação do comércio externo do Sião.

José Martins

 

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