O MEU 25 DE ABRIL
Digo o meu
25 de Abril (igual a outros tópicos, que escrevo, em artigos que se
referem aquilo que considero muito meus),
que festeja os 29 anos da chamada revolução dos cravos de alegria e da
liberdade em Portugal.
Estou a 15 mil
quilómetros de Portugal e, ali hoje, como é óbvio, se festeja a Revolução
que deu a liberdade aos portugueses, a livre expressão do pensamento, o fim da
polícia política e da ditadura em Portugal.
Certamente vai
haver cerimónia militar, na Avenida da Liberdade, onde estarão presentes as
individualidades mais gradas do país, pessoas, nos passeios a ver a parada a
passar, venda de cravos vermelhos ( o simbolo do 25 de Abril de 1974) e na
avenida a rolar o material, circulante que serviu na guerra do ultramar (é feia
para mim a palavra colónial) e, a obsoleta metralhadora ligeira G3 a quem os
soldados portugueses, na giría, chamavam , na guerra: “ a costureirinha”.
Nasci debaixo da ditadura de António de Oliveira Salazar e muito me honro de ter sido meu comprovinciano. Tive a felicidade de ter pernoitado numa casa, um pouco mais acima da do apelidado ditador, casa que possuia, no Rojão Grande, no distrito de Santa Comba Dão. Era casa modesta, constituída por um rés-do-chão e pelas paredes teimava em subir uma frondoso hera. Da estrada eram visíveis as ramadas de videiras que existiam nas traseiras da moradia. Já lá vão (como o tempo passa numa fona!), uns 44 anos, eu era um rapaz cheio de ambições e servi, por uns 8 dias, como motorista, o director de compras, da Companhia Resineira, para a recolha da seiva dos pinheiros das matas da Beira da Alta
Era uma Beira
rural, onde as pessoas se ocupavam do amanho das terras, havia rebanhos de
ovelhas e cabras a pastar nos montados e lameiros de onde
som das campaínhas e dos chocalhos nos penetrava e sensibilizava os tímpanos.
Searas de
centeio, douradas, que ondolavam quando o vento suão lhes batia.
Homens,
honrados, onde a palavra valia mais num empréstimo contraído que
uma letra bancária. Rezava-se, na lareira, depois da ceia da família.
Em minha casa, era o meu Pai (se fosse, hoje, vivo teria 96 anos), que
encomendava os Padres Nossos ás almas da família que tinham partido para o céu
ou o purgatório. Os quatro da família de mãos postas e a rezar. As orações
eram demoradas, isto porque o meu pai designava os nomes, dos tios, avós, bizavóes,
os primos, amigos e, nos meus oito anos, uma noite, no meio daquela cerimónia,
solene, religiosa, caseira, olhei para a minha irmã Emilia e ri-me. O meu pai,
com a velocidade de um relâmpago, disparou, o braço direito e deu-me uma
cota-de-mão na face que me doeu mesmo. A reza continuou e, o sermão do velhote
ficou para depois da cerimónia. Para sempre me ficou na memória e, abençoada
cota-de-mão do meu saudoso pai.
Em minha casa,
graças a Deus, havia muito pão para a boca e, liberdade racionada, nada de
pisar o risco, porque se isso acontecesse havia uma vide seca, com nós, a cair,
com alguma crueldade nas nádegas do infringedor ( era eu, amante da liberdade e
sempre irreverente às imposições e leis da Casa da Fonte).
Aldeias
tranquilas, onde se ouvia o som dos sinos , ao alvorecer e ao escurecer o toque
das Trindades. Quando principiava a
badalar o sino, na torre da igreja, anunciando
o toque das Avés Marias, ao escurecer, era ver a miudagem, da rua, a bater com
os calcanhares no traseiro; a correr para casa e, se o toque já tivesse
terminado antes de chegar a casa, esperava por ele a vide ou uma varinha de
marmeleiro, rastiço, que maguava.
Mãos
calejadas de homens que arranhavam quando comprimentavam com uma mansada as mãos
mimosas do amigo vindo da cidade
que visitava a sua terra.
Mulheres
vestidas de negro, com lenço preto na cabeça e com a saia a roçar os
tornozelos caminhavam pelas calçadas do povoado. Moçoilas de faces rosadas a
bambolear as ancas, apetitosas, no caminhar e crianças, de ranho no nariz, calças
de cotim arremendadas nos fundilhos, despreocupadamente, a jogar com uma bola de
trapos num descampado relvado.
Comboios,
ronceiros, de passageiros e de mercadorias, arrastavam-se pelos carris, entre as
cordilheiras rasgadas, a levante do
rio Mondego, lançando fumo negro pela chaminé cujo o som do apito ouvia-se a
uma dezena de quilómetros.
Hoje,penso,
que já assim não é... deixei a minha aldeia com 10 anos e fui, até hoje,
pegar o mundo pelos “cornos”.
Na
generalidade toda a gente, na Beira Alta e praticamente nos meios rurais
portugueses vivia assim. Havia pão, meia sardinha, como conduto e muito
caldinho da horta temperado com untinho de porco da salgadeira. Liberdade
condicionada e muito respeito pela gente velha. Claro que não havia a droga, as
discotecas, na beira das estradas, com mulheres de várias nacionalidades a
alternar. Roubos da propriedade alheia não existia e as chaves de portas, das
cortes e de casa, havia anos, de permanecerem no mesmo sitio que era um prego,
batido, um pouco a cima da gateira, na parte de trás da porta.
Mas quem serei
eu, agora, para ir contra aqueles que amam o Dia da Liberdade,que lutaram ou não
por ela e, que passado 29 anos andam a “baladar” o 25 de Abril, a nomear os
nomes daqueles que partiram para a eternidade?
Quanto ao
Prof. Oliveira Salazar não se conheceram casos de corrupção e, até penso,
poucos dos membros do seu Governo. Não se constou que o velho governante
tivesse contas na Suiça e casas de férias no Algarve. O caso mais falado e
aproveitado para o “sussurro” político foi o “Ballet Rose” em Lisboa.
O Prof.
Marcelo Caetano, proeminente figura que respeito muito, sabia que quando
substituiu o Prof. Salazar se desse muita liberdade, política, certamente não
tardaria a ser implantado, em Portugal, um sistema semelhante ao do Fidel de
Castro e o nosso país ser a Cuba da Europa. Com isso se seguia a ocupação de
fábricas, (algumas foram) despedir os exploradores dos patrões, erigir nas praças,
principais, públicas, de Portugal bronzes com a esfinge do Lenine, bandeiras
vermelhas com a foice eo martelo a flutuar por todos os lados. Bancas de venda
de livros com tópicos politiqueiros
baratos e, ainda cassetes com os discursos e palavras de ordem dos líderes cuja
demagogia, apenas servia, para destruir Portugal e não o fazer progredir.
Vejamos por exemplo a tão falada “Reforma Agrária” no Alentejo, onde
algumas propriedades foram tomadas de “rompante”, camaradas que para ali se
deslocaram e, segundo tive conhecimento, eram necessárias 15 pessoas, por dia,
para apanhar um alqueire chícharos.
Se essas
propriedades não voltassem aos seus legítimos proprietários, certamente que
até as varas dos porcos teriam deixado de existir e apenas ficava por lá a
bolota caída junto ao toro das azinheiras.
A Revolução
dos Cravos partiu das Forças Armadas Portuguesas, mas tive sempre dúvidas se
esta foi mesmo para restituir a liberdade aos portugueses, acabar com a guerra
em Angola, Moçambique e Guiné ou se intenção seria a de fazer valer
determinados interesses.
Conhecedor que
fui do palco das operações militares, em Moçambique, sabia que havia oficiais
militares que já tinham feito mais do que uma comissão de serviços e até, não
estavam mal instalados no território.
No mato as
picadas eram percorridas pelos militares, normalmente, de alferes até ao
soldado raso.
Esquecendo o
passado e voltando à realidade do presente, o que mais me tem surpreendido é
que de facto o 25 de Abril de 1974, aconteceu, há 29 anos (uma meia vida), e
Portugal não passou da cepa-torta.
Por exemplo
para 2003 a taxa, económica, de crescimento de Portugal é de 0,3%. E para o
ano 2004 não se pode advinhar se ficam, apenas zeros à esquerda.
Vão se
ouvindo muitas promessas (as palavras também confortam...) que Portugal está
no caminho certo para a recuperação económica, um país atractivo para o
investimento estrangeiro e, infelizmente me chegam notícias, através da RTPi,
de fábricas a encerrar e mandar as pessoas para o fundo do desemprego.
A essas
palavras de consolação seguem-se outras, que devemos aumentar as exportações;
melhorar a produção para entrarmos na competitividade dos mercados
internacionais.
Mas quando será
que isso vai acontecer se Portugal não pode competir com os mercados asiáticos,
devido à mão de obra barata e às novas tecnologias de produçao, implantadas,
pelos investidores estrangeiros naqueles paises?
Agora pergunto
aos que me queirar responder: “O que fizeram os políticos portugueses que
governaram Portugal durante 29 anos, que continuam a falar na vitória das
liberdades alcançadas no 25 de Abril de 1974 e, o porquê que Portugal se
situar na cauda das nações inseridas na União Europeia”? Porque será que
os portugueses, no limiar do século XXI, cada vez mais estão a encontrar
dificuldades e com menos poder de compra?
E não ficamos
por aqui... as cadeias vai continuar a encher-se, os assaltos vão continuar a
ser um facto corrente do dia-a-dia dos portugueses e vai-se gerando um reino do
medo; a droga a destruir corpos e famílias, a homogeneidade lusa a perder as
suas raizes tradicionais, dado ao êxodo migratório de há anos nas aldeias
onde só ficaram os velhos e, depois de partirem para o outro mundo, são espaços
rurais que antigamente tiveram vida e, serão e, não tarda, ocupados por outras
pessoas, alheias à cultura e tradições lusas oriundas de países agora
inseridos na União Europeia.
Portugal vai
ficar a porta aberta para a Europa onde, todas a boa gente se movimenta
livremente, tão livremente que é ver a “escória” internacional a procurar
abrigo no nosso querido Portugal, dado
a sua hospitalidade e liberdade de movimentos.
Portugal,
demográficamente, foi composto de mestiçagem e vai continuar e no futuro a raça
lusitâna (aquela que me orgulho e a escassos quilómetros de Folgosinho, onde
dizem ter nascido Viriato), ficará um passado histórico.
Faço votos
que os filhos dos meus netos ainda vejam um Portugal, forte económicamente e
com políticos que o saibam levar ao destino certo.
No meu tempo e
no dos meus comtemporâneos não prevejo futuro brilhante, porque os políticos
que governaram Portugal desde o 25 de Abril de 1974, mais procuraram satisfazer
as suas ambições pessoais que servir os portugueses.
Já que para
Portugal o século XX foi padrasto, oxalá que o XXI lhe traga mais sorte e
imensa prosperidade e, (claro sem eles nada pode acontecer) politicos modernos
que olhem mais para o povo português e parem de andar, nas campanhas
eleitorais, de mercado em mercado mercado a
promoverem-se, a “beijocar” e a enganar as tias Marias e os tios Maneis com
promessas que depois não cumprem.
José
Martins