CARTOGRAFIA  DO ENCONTRO OCIDENTE-ORIENTE

 Há dias e na continuada procura, na minha biblioteca particular, de material histórico e que este se refira à expansão portuguesa na era dos descobrimentos fui encontrar um excelente documento, de 160 páginas que em Agosto de de 1996 o Comandante Manuel António Lopes, do Secretariado Executivo, da Comissão Territorial de Macau para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, teve a gentileza de me enviar.                                          

Com devida vénia, tomámos, a liberdade de copiar, parte dos textos e das ilustrações inseridas na publicação “Cartografia do Encontro Ocidente-Oriente” que considero uma obra de vasto valor, histórico e igual a outras mais, editadas, pela Comissão Territorial de Macau para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses na altura da administração do Território, por Portugal e sob o executivo do General Rocha Vieira.

 

A “Cartografia do Encontro Ocidente-Oriente” foi patrocinada pela Fundação Oriente e bilingue que engloba a língua portuguesa e a chinesa.

 

Dado o interesse (e por isso o fizemos), que o conteúdo, da matéria, poderá vir a ter para os interessados no alargamento dos seus conhecimentos  sobre a história e navegação na era da expansão, portuguesa nos  oceanos, que partindo de Sagres, em direcção aos cinco continentes, do globo, descobrindo novas terras e gentes não poderia deixar ficar em branco, sem  incluir, este valioso documento histórico e cultural no “site” Aquimaria.

 

                                   

“Esta é a carta de todo o mundo até hoje conhecida a qual eu, Lopo Homem, cosmógrafo, comparando muitas outras, tanto antigas como modernas, debuxei com grande aplicação e diligente trabalho na ilustre cidade de Lisboa, no ano de nosso senhor de 1519 por mandado de Manuel, inclito Rei de Portugal” (Biblioteca Nacional de Paris).

 

“...achada a maneira de pôr cada uma das terras e mares deste mundo em seu certíssimo lugar, ficaram muito fáceis todas as navegações antigas, descobriram-se muitos mares e terras de novo, facilitaram-se todos os comércios, descobriu-se outro mundo novo, e fica agora tão fácil dar uma volta a todo o mundo, como era antigamente navegar de Itália para África e finalmente, com muita facilidade agora se comunica com todo o mundo e se navega.

 

E esta é a verdadeira e perfeita Geografia, a qual principalmente consiste em demarcar as terras pela correspondência que tem cada uma ao céu, com a devida largura e longura e desta maneira se pode pôr em uma breve carta e pintura todo o mundo, e qualquer parte, província, reino ou comarca dele com muita certeza....” D. João de Castro? – da Geografia por modo de diálogo. Cerca de 1535

 

A cartografia é a representação, parcial ou total, da Terra segundo uma escala numericamente definida e determinadas convenções.

 

A cartografia portuguesa, dos séculos XVI e XVII, exprime a explosão informativa sobre a hidrografia e as massas litorais do planeta, consequência da Abertura do Mundo, a partir do século XV, à comunicação marítima regular.

 

A cartografia da expansão planetária dos portugueses é um conjunto de cartas náuticas de grande precisão nos complexos marítimos costeiros e com a máxima elucidação dos núcleos geográficos com importância para a navegação (cabos, baías, golfos, ilhas, portos).

A cartografia náutica nasce, nos séculos XIII – XIV, no Mediterrâneo. Estas cartas  náuticas, conhecidas como “Cartas-Portulano”, estão traçadas de acordo com rumos magnéticos e

Distâncias  estimadas. São, em geral, de forma tectangular, na proporção de dois (sentido leste-oeste) para um (sentido norte-sul), e apresentam uma rede básica de linhas de rumo.

 

As cartas-portulano representam correctamente as bacias do Mediterrâneo e do Mar Negro, e as costas europeias do Atlântico, até ao norte de França e ao sul das ilhas Britânicas.

A carta-portulana é a transcrição gráfica do escrito no roteiro (portulano) e, por isso, contém a representação da costa e dos lugares nela visitados e localizados pelos navegadores de acordo com uma navegação, costeira, de “rumo e estima”.

A cartografia náutica dos portugueses nasce desta carta-portulano mediterrânea e afirma-se como um desenvolvimento da carta rumada e uma revolução na representação correcta dos diferentes oceanos e continentes.

 

A partir da herança mediterrânea, a cartografia náutica portuguesa começa, por volta de 1443, a representar o Atlântico e o litoral de África, até então ignorados na Europa.

 

Entre 1446 e 1453 estabeleceu-se um regular trabalho cartográfico de recolha e de actualização de informação, dos litorais de África para além do Cabo Bojador, limite tradicional das navegações no oceano Atlântico, já assinalado em algumas cartas portulano.

A carta náutica portuguesa está ligada ao aparecimento, no século XV, da navegação astronómica. Isto é, de uma náutica baseada em processos de medição de coordenadas astronómicas que permitem definir a posição, rigorosa ou aproximada, do navio.

 

A determinação da latitude, durante o dia, pela observação do sol e à noite, pela observação de outras estrelas, como a Estrela Polar e o Cruzeiro do Sul, foi alcançada no século XV levando à invenção ou à adaptação de novos  instrumentos (casos do astrolábio náutico, da balestilha e do quadrante).

 

A náutica astronómica é um processo técnico, com várias fases, que, no Atlântico, é criado pelos portugueses entre 1430-1440 e 1460-1480. A navegação por “Alturas-Distância” foi solução encontrada para nevegar fora das proximidades das linhas da costa.

 

As cartas náuticas portuguesas são rumadas, com uma tradicional rede de rumos magnéticos, mas , possuem uma ou mais escalas de latitudes. Este compromisso, da carta  náutica rumada com as necessidades da náutica astronómica, leva à graduação do equador com a mesma escala de que se servem para graduar um meridiano em latitudes, daí resultando, uma nova espécie de carta rumada marcada, com pequenos quadrados, formados pelos paralelos e pelos meridianos.

 

A introdução das escalas de latitudes foi a grande inovação técnica portuguesa na cartografia do séculoo XVI. Existem, ainda, na mesma época, outras inovações portuguesas, da técnica cartográfica, como, por exemplo, os planos hitrográficos com vistas de costas rebatidas no plano horizontal e o registo de sondas.

 

Para além destas inovações técnicas a cartografia náutica portuguesa, dos séculos XVI e XVII, é uma imensa revolução informativa sobre os espaços oceânicos e litorais de todo o Planeta.

 

Pela primeira vez, no Ocidente, existe uma cartografia náutica para além do Mediterrâneo. Uma cartografia náutica com representação objectiva dos mares e dos litorais africanos, asiáticos e americanos.

 

Em relação à Ásia é a cartografia náutica portuguesa quem revela, a todo o Ocidente, os verdadeiros mares e litorais. É a cartografia náutica portuguesa que institui nomenclaturas, hoje universias, de espaços como, por exemplo, China, até aí designada por Cataio, Mangui ou Índia Superior e Japão, antes chamado Cipango.

 

 

 

A cartografia náutica portuguesa apresenta, uma grande e concreta informação do Índico e do Pacífico nos seus litorais orientais, porque os portugueses são os primeiros, e, durante certo tempo, os únicos europeus nos espaços em questão.

 

O contacto regular e, mesmo, o diálogo de conhecimentos com o Outro Oriente é decisivo. É a ligação à marinharia e à cartografia árabes, malaias, javaneses e chinesas que permite, por exemplo, logo, em 1502, cartografar Malaca, o golfo de Tonquim e Ainão, no planisfério, anónimo dito de “Cantino”.

O encontro dos saberes cartográficos, ocidentais e orientais, na cartografia náutica portuguesa vai aumentando, ao longo dos séculos XVI e XVII, e torna-se mais directo com os cartográficos luso-indianos e luso-malaios: Fernão Vaz Dourado, Lázaro Luis e Manuel Godinho de Erédia.

 

O grande impacte da cartografia náutica portuguesa na restante cartografia europeia é o fruto da inovação técnica das escalas de latitudes, da revolução informativa sobre as diversas zonas terrestres  e hidrográficas e da circulação de pilotos, de roteiros, de cartas e de cartógrafos portugueses por toda a Europa, como vemos, por exemplo, nos casos de Diogo Ribeiro em Espanha, André Homem em França, Diogo Homem em Inglaterra, etc..

 

A cartografia náutica portugesa, dos séculos XVI e XVII, constitui um dos momentos fundamentais da história da geografia. Representa um salto, qualitativo e informativo, no quadro europeu do saber. Uma nova idade informativa, dos mundos do mundo, apenas possível, pelo encontro com as Outras Sociedades e Culturas da Ásia, da África e da América.

 

José Martins

 

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